domingo, outubro 30, 2011

apetites

Apetece-me porque me apetece e porque algo me fez lembrar o que desde muito cedo decorei: a sátira...

Chaves na mão, melena desgrenhada,
Batendo o pé na casa, a mãe ordena
Que o furtado colchão, fofo e de pena,
A filha o ponha ali ou a criada.

A filha, moça esbelta e aperaltada,
Lhe diz coa doce voz que o ar serena:
- «Sumiu-se-lhe um colchão? É forte pena;
Olhe não fique a casa arruinada...

- «Tu respondes assim? Tu zombas disto?
Tu cuidas que, por ter pai embarcado,
Já a mãe não tem mãos?» E, dizendo isto,
Arremete-lhe à cara e ao penteado.
Eis senão quando (caso nunca visto!)
Sai-lhe o colchão de dentro do toucado!...

Nicolau Tolentino

sábado, outubro 29, 2011

medusa

Na transparência da água a invisibilidade da medusa perturba a quietude da pele adormecida. Há o canto da sereia e um coração que se afunda na solidão do mar profundo. O barco passa deixando atrás de si o rasto da esperança que morre. Ondulação breve como breve é o alvoroço da erupção vulcânica da alma ansiosa.

sábado, outubro 22, 2011

a rebeldia da memória

Ordem para esquecer, apagar, eliminar, suprimir e a paz volta na tranquilidade de um mar chão onde a inexistência da ondulação permite o estático equilíbrio da física. "Sem ordem sem meneio" o que era estático dinamiza-se obrigando ao pronto restabelecimento de um novo equilíbrio, mais pesado, mais susceptível a novas perturbações; químico. Acontecimentos estocásticos num universo onde a memória não morre. Lampejos inolvidáveis. "E em nada existo como a treva fria".


quarta-feira, outubro 05, 2011

De battre mon cœur s'est arrêté

Solta-se o riso e nele está contido o Universo onde estrelas cintilantes indicam o caminho rasgado no negrume da noite. Corrida contra o tempo, coração parado ao som de cada batida. Oásis num deserto arenoso onde os finos grãos se aglomeram teimando em formar a rocha granítica e pesada. Valquírias em delírio, cavalgada sem destino.