domingo, julho 30, 2006

Juras

Faço e desfaço qual Penélope tecendo a sua colcha. Espero o mendigo que um dia conseguirá atirar certeira a flecha.
Hoje apetece-me fazer juras...
Eu juro, juro mesmo, que um dia tomarei o caminho do bem, que alcançarei o reino dos céus e, principalmente, juro que escolherei o caminho das pedras de modo a poder deslizar sobre as águas marinhas sem me afogar... eu juro.. juro...
(...)
“Ó glória de mandar! Ó vã cobiça
Desta vaidade, a quem chamamos Fama!
Ó fraudulento gosto, que se atiça
C’uma aura popular, que honra se chama!
Que castigo tamanho e que justiça
Fazes no peito vão que muito te ama!
Que mortes, que perigos, que tormentas,
Que crueldades neles experimentas!“


(...) ....... Luís Vaz de Camões
......
À nossa volta a ânsia do poder, a incontrolável presença da intolerância, o autismo permanente, a ausência de reconhecimento dos direitos dos outros.

quinta-feira, julho 27, 2006

A Química

foto tirada daqui
Hoje recebi um email da SPQ em que o assunto era o choque tecnológico, as ciências exactas e o acesso ao ensino superior.
Mais especificamente a revolta estava no facto de a Química ser «praticamente varrida» das turmas escolares do 12º ano sendo substituída por Geologia, Biologia, Psicologia, etc etc.
Não posso deixar de me solidarizar com o protesto, a Química é uma ciência fundamental, dela derivam muitas outras e, embora não esteja na crista da onda, a verdade é que sem ela não poderemos sobreviver, pois, como se sabe, a nossa existência assenta na combinação harmoniosa de átomos e moléculas conducente a este conjunto a que chamamos corpo humano. Claro, a ele está associada a essência e essa versará com certeza outras áreas que não duvido serem também fundamentais.
A Química não está na moda, é um facto! Mas daí a substitui-la por essa atractiva ciência que é a Geologia, por exemplo, correremos o risco de nos transformarmos todos em matéria inerte. Sim eu sei, muitos de nós já o somos, há uma tendência para a mecanização de gestos, atitudes e modos de vida que por vezes me faz deitar as mãos à cabeça numa tentativa de a segurar receando a sua eminente queda. É a normalização!

terça-feira, julho 25, 2006

A indecifrável natureza humana

O ser humano é por natureza complexo e labiríntico, é incapaz de gerir a coexistência inevitável da razão com a emoção. Ao analisar estas duas vertentes rapidamente se conclui que não só são antagónicas como se digladiam mutuamente numa batalha sem tréguas, como dois soldados vestindo fardas diferentes. Quer queiramos ou não, «a emoção desfaz a razão», seja ela de que natureza for, amor, ódio, não há como contornar a questão.
Invente-se uma forma de coexistência pacífica e estruturante!

quarta-feira, julho 19, 2006

A Esperança de poder esperar

Ontem no regresso a casa depois de mais um dia a inventar coisas, ouvi a Fernanda Montenegro no programa «Pessoal e Intransmissível» dizer que «não gostava da palavra Esperança por ela estar associada a algo que poderia, ou não, acontecer».
Quedei-me a pensar no assunto e concordo com ela, à minha memória veio a frase batida: a Esperança é a última a morrer. É uma frase que está associada a acontecimentos que muito provavelmente nunca ocorrerão mas que nos ajuda a mitigar o desespero do inevitável.
Sendo assim, faço minhas as suas palavras e digo: prefiro esperar a ter Esperança. Espera-se por algo que vai acontecer, tem-se a Esperança que aconteça o improvável.
Sendo assim, fico à espera!

segunda-feira, julho 10, 2006

(...)
Ó subalimentados do sonho!

....................A poesia é para comer.
Natália Correia

domingo, julho 02, 2006

Silêncio

Não gosto do silêncio, o silêncio, quando não acompanhado de outras manifestações, como o olhar, o respirar, o tocar, tem o sabor a morte.
Mesmo quando me refugio no cume das montanhas, gosto de ouvir o uivar do vento, o cantar de uma cigarra, o correr da água do rio, ou o tilintar dos sinos no pescoço das ovelhas.
Mesmo quando procuro a praia deserta, gosto de ouvir o som das ondas no seu inquietante movimento, o som do seu impacto na areia. O silêncio é a ausência absoluta de som, é o vazio, tendo em conta que o vazio é, por definição, ausência de matéria.
Mesmo quando me encerro num espaço fechado, gosto de ouvir os sons vindos da rua, uma criança que grita, um papagaio que invariavelmente repete: ó mãe, ó mãe.. có córó cócó.
Não gosto, não gosto do silêncio!
O silêncio é a ausência de resposta, o silêncio é viver um dia a dia de autismo puro e duro.
Gosto da alegria das respostas, dos sons, da vida!